Hoje resolvi escrever pra você.
Na verdade, não diria que é especificamente pra você porque não vou te enviar esse texto. Ele vai ser público, pode ser que você acabe se deparando com ele aleatoriamente em algum momento, mas eu não tenho a intencional pretensão de que você leia.
Eu tô escrevendo pra mim, porque às vezes as palavras me sufocam e eu preciso dar vazão a essa imensidão de pensamentos, e expectativas, e sonhos, e sentimentos e tudo que era pra gente ser, mas não fomos.
Estamos perto de completar dois meses separados. Dentro desses dois meses, passamos por altos e baixos – muitos deles provocados por mim, porque eu não queria te deixar ir e insistia em manter algum nível de contato, insistia em entender o que aconteceu, insistia em manter a ferida aberta e sendo constantemente cutucada. Eu tenho plena consciência disso.
Suas palavras mudavam muito de um momento pra outro. Nesse processo de querer entender e remoer cada pequeno acontecimento, eu reli conversas antigas, ouvi áudios, revisitei fotos… e tudo passou a fazer menos sentido ainda. Você mudou tanto. Tanto. Eu mal te reconheci nas conversas recentes, no término em si, nos argumentos, nas motivações.
O que me restou foi aceitar que não existe uma causa ou um motivo específico, palpável, plausível. Nesse amaranhado de incoerências, a única coisa que faz sentido e que eu resolvi me apegar é: você fez a sua escolha e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Por mais que me doa, por mais que todo dia eu queira correr atrás, insistir, mostrar que pode ser diferente, você fez a sua escolha.
Não acho que não exista amor, eu não consigo acreditar que foi tudo uma ilusão. Seria cruel demais.
Acho que você mudou, seus objetivos mudaram, e eu não me encaixo mais na sua nova realidade. Eu queria me encaixar, mas eu não posso me tornar alguém que eu não sou por você. Não posso, novamente, me perder de mim. Por isso, eu decidi te deixar ir e permanecer aqui comigo. Abraçar as minhas dores, acolher a minha solidão, sonhar novos sonhos e construir uma nova vida – sem você.
Não tem sido fácil, muitas memórias teimam em me assombrar. Eu sinto seu cheiro numa brisa suave de fim de tarde na praia, vejo suas mãos habilidosas em um barista qualquer me preparando café, ouço a sua risada destoando de várias outras no meio de um grupo de amigos que passa por mim na calçada, encontro seus olhos em rostos que não são o seu e eu ainda peço Negroni toda vez que sento num bar, na minha própria companhia. Você faz parte de quem eu sou hoje e eu já aceitei que isso nunca vai mudar.
Me resta seguir aprendendo a conviver com o seu eu que fez morada em mim sabendo que, pelo menos aqui dentro, nós seguiremos juntos.